terça-feira, 20 de julho de 2010

História de uma sedução: recorte autobiográfico.

Share |

Tenho para com a Educação Pública do estado de São Paulo, um carinho especial, pois foi o depoimento de um aluno da rede pública, em 1993, explicando para o reporter porque tinha se tornado um skin-head, que me fez ver o caos da educação pública, e deduzir que a causa do problema estava na falta de bons professores de história na rede estadual. Na época, trabalhava em uma multinacional e me senti mal, ao ver que enquanto eu desfrutava da minha vidinha confortável, milhares de jovens estavam tendo suas vidas destruídas pela falta de uma educação de qualidade. No dia seguinte matriculei-me em curso pré-vestibular, pois haviam se passado mais de 15 anos desde o meu último vestibular, resumindo, no final do ano fui aprovada para a UERJ e para UFF, acabei optando pela UERJ por ficar mais próxima da minha residência.

No segundo período do curso, participei da fundação um pré-vestibular comunitário, e já no ano seguinte, tínhamos como colegas na UERJ alunos desse cursinho. Após a conclusão do curso, trabalhei em escolas particulares e na rede estadual como contratada. Em 2004 passei no concurso e me tornei professora da rede estadual em 2007, pois acredito que guerra só pode ser travada no front.

Em função do trabalho, pois chegava à UERJ por volta das 19:30, fiz o curso lentamente, poucas disciplinas por semestre, pois não admitia pegar aula pela metade, depois tive que trancar a matrícula quando a minha mãe teve câncer e só voltei quando ela estava totalmente recuperada. Finalmente em 2003, conclui o curso e comecei a lecionar na rede privada e na rede pública com contratada. Fiz o concurso de 2004, e quase morri de arrependimento em ter escolhido a Metro III, achei que por ter poucas vagas não seria a opção da maioria e quebrei a cara, pela minha pontuação teria entrado na primeira chamada se tivesse escolhido São João de Meriti, tive que esperar até 2007 para ser chamada.

Para minha surpresa, descobri que o problema da Educação não era tão simples, isto é não se resumia apenas na falta de bons professores. Como em todas as áreas, existem profissionais desinteressados, desmotivados e irresponsáveis, mas a grande maioria, aqui no Rio, posso afirmar, com absoluta segurança, dá o sangue pelos alunos.

Atuando no magistério, não só na rede pública com na privada, no seguimento do ensino médio e superior, comprovei por experiência própria, que a qualidade da educação não depende só do professor, de nada adianta professores interessados e motivados se são boicotados pela falta de estrutura do sistema. Não falo apenas do público, mas também do privado que, salvo raras escolas, está tão ruim quanto o da rede pública, só não é percebido por causa da maquiagem.

Na rede pública, na minha opinião, a raiz de quase todos os nossos problemas se encontra na malfadada política educacional adotada na gestão do prefeito César Maia, a aprovação automática até o final do Ensino Fundamental, destruiu literalmente o futuro de milhares de jovens, ao condená-los ao analfabetismo funcional. Anualmente ingressam no Ensino Médio alunos que não dominam a linguagem formal, desconhecem por completo a norma culta da língua e o que é pior, estão condicionados a acreditar que basta estar fisicamente na escola para “ganharem” o diploma. Agora eu pergunto? É possível a um indivíduo que não sabe ler nem escrever ter um bom aproveitamento no ensino médio? A culpa é do professor deste seguimento? A resposta óbvia e simplista seria: os culpados são os professores da rede municipal. Resposta errada! Independente da avaliação do professor os alunos eram promovidos, pois o que interessava era a quantidade para engordar as estatísticas e não a qualidade. As avaliações realizadas eram apenas uma encenação. Existem dezenas de depoimentos de professores da rede municipal na Internet, denunciando a aplicação destes testes que só serviram para jogar dinheiro público no lixo. O novo prefeito se elegeu prometendo acabar com a progressão automática espero que em 2019, a rede estadual receba alunos dotados com habilidades e competências determinadas pelo MEC, necessárias para o prosseguimento dos estudos no Ensino Médio.

Após esse tempo passado dentro de salas aula, sei, por experiência própria, que não há falta de bons professores e que a baixa qualidade da educação não é culpa dos docentes. Na minha ignorância da realidade, baseada nas informações da mídia, achava que a culpa era dos professoras, agora conheço a realidade sem intermediários. Com base na minha vivência na área da educação gostaria de deixar uma recomendação para os leigos que opinam sobre educação: analisem criticamente, não somente o desempenho dos professores, mas também as políticas educacionais, pois reservar todas as pedras só para os professores é ficar ao lado dos maus políticos, ajudando-os a manter o povo na ignorância e ajudá-los na tarefa de destruir a Educação Pública e a vida de milhares de cidadãos.


Apesar dos desafios estou completamente realizada, pois acredito e amo a minha profissão.

Nenhum comentário:

Postar um comentário