quarta-feira, 7 de julho de 2010

AUTORIDADES RECONHECEM QUE A APROVAÇÃO AUTOMÁTICA É PREJUDICIAL À EDUCAÇÃO

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Apesar do salário líquido de R$ 670,00 (sem plano de saúde, vale transporte e vale refeição), hoje estou me sentindo aliviada, finalmente a secretária de educação do Estado do Rio de Janeiro, Tereza Porto, reconhece publicamente o estrago feito pela aprovação automática: “Esses alunos que estão no ensino médio vieram da rede municipal em um cenário de aprovação automática e carência de professores*. Há anos os professores da rede municipal e da rede estadual, vem cantando essa pedra, pois não é possível ter bons resultados com “promoção continuada”.

O estado do Rio de Janeiro, um dos mais ricos da união, teve o pior desempenho de todos os tempos no Ideb, com média 2,8 ficou abaixo de estados mais pobres como a Paraíba, o Amazonas e o Acre. Caiu por terra os índices extraídos a fórceps ... Todo esse caos vem sendo construído há décadas, entendem agora a pressão pela produtividade? Quantidade e qualidade são coisas distintas.

Qualquer leigo sabe que para se construir o segundo andar de uma construção, a base e o primeiro andar têm que estarem concluídos, infelizmente nós professores do Ensino Médio nos sentimos como um pedreiro encarregado da construção do segundo pavimento a partir da estaca zero. Nem mesmo utilizando todo o ludismo prescrito pelos “experts” em educação esse milagre é possível. Com estudantes que não possuem as habilidades e competências que deveriam ter sido desenvolvidas na educação básica e nas séries iniciais, o trabalho dos professores do Ensino Médio é quase impossível, já estamos roucos de tanto insistir nesta questão, mas sempre as autoridades ignoram a realidade e jogam a culpa nos profissionais da educação. A figura do analfabeto funcional é uma realidade nas salas de aula do Ensino Médio da rede estadual, há muito tempo. Os estudantes chegam ao primeiro ano do ensino médio, viciados na aprovação automática, para eles basta à presença física na sala de aula para obter o diploma. A grande maioria não acha importante prestar atenção a uma explicação, participar de um debate, fazer exercícios e estudar para uma prova. Freqüentemente os alunos pedem ponto por presença, caderno em dia, trabalhos para “ajudar” e provas em dupla com consulta.

A precária alfabetização se revela na incapacidade para ler e interpretar um texto do livro didático, o desconhecimento do significado de palavras comuns da língua formal, como por exemplo, rural / urbano; escrita de nomes próprios com letras minúsculas; dificuldade para fazer uma cópia; desconhecimento quase total de mapas e assuntos relacionados à geografia; grande parte desconhece os algarismos romanos; cultura geral nula; dificuldades para ler jornais e revistas; poucos escrevem o nome completo, seja em um trabalho, teste ou prova; não têm o costume de usar caneta para a realização de testes ou provas e nem mesmo uma pesquisa básica a grande maioria consegue fazer.

Uma aula utilizando filme, PowerPoint com data show é totalmente desprezada, pois entendem que o professor/professora está com preguiça, enrolando para não dar aula. Qualquer recurso didático é encarado com desconfiança e descaso, pois aula mesmo, pra valer tem que ser cópia do quadro, quanto mais cheio melhor, na hora da explicação só uma minoria presta a atenção. Qualquer atividade proposta tem que valer pontos e mesmo assim poucos a realizam. Tentativas para fazer oficinas de interpretação de texto e redação, não dão em nada, pois eles consideram que nada disso é necessário, pois entendem que estudar é ir à escola, só com a presença o diploma está garantido.

Infelizmente a mídia carioca, preferiu dar destaque ao caso do goleiro Bruno, suspeito de ter assassinado a amante, do que ao genocídio do futuro de milhares de jovens cariocas promovido pela política educacional “factóíde” implementada pelo ex-prefeito César Maia, somente hoje, em 2010, o Estado vem a público condenar essa prática, que condenou e continua a condenar milhares de jovens a um futuro sem perspectivas. A edição noturna do RJ TV foi integralmente destinada ao caso Bruno, a repórter Sandra Moreira, saiu às ruas para entrevistar a “nação rubro-negra” sobre a onda de envolvimento de craques do Flamengo com o mundo crime. Nem uma palavra sobre a péssima qualidade da educação no Estado. Ninguém melhor do que a Rede Globo para ter consciência dessa realidade, há anos atrás, percebendo a queda de leitores do jornal o Globo, em função do analfabetismo funcional da população, lançou o jornal Extra, destinado ao público semiletrado, vende que é uma maravilha, a baixa qualidade da educação é lucrativa para a emissora, pois também rende dividendos para as ações do Criança Esperança e público para o Tele-curso.

Cabe ao futuro governador do Estado, sentar com o prefeito e juntos elaborarem um plano para tirar a educação pública do Estado deste buraco.
Mais na disputa entre educação e futebol, a chuteira vai vencendo o livro, enquanto o povo eufórico aplaudia a seleção, o MEC recomendou a aprovação automática nas séries iniciais, não só para as escolas públicas como para as privadas. Espero que a tragédia do Rio de Janeiro sirva de exemplo para todo o Brasil.

*http://www.estadao.com.br/noticias/vidae,alunos-do-ensino-medio-do-rio-tem-as-piores-notas-do-sudeste,577709,0.htm

5 comentários:

  1. Será que agora as coisas vão mudar?

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  2. Sou professora da rede estadual em Contagem, Minas Gerais. Aqui o governo da prefeita Marília Campos também adota a progressão continuada no Ensino Fundamental. É uma tristeza. Os estudantes das minhas turmas de 2º e 3º anos do Ensino Médio são iguais aos seus. Enquanto lia o post era como estar olhando para dentro das minhas salas de aula. Não sei até quando a sociedade poderá suportar isso. Nós, educadores, estamos de mãos amarradas.

    Obrigada por compartilhar suas reflexões conosco.

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  3. Obrigada pela sua participação. Aqui no Rio de Janeiro,graças a Deus, o governo do estado não adotou a "progressão continuada", entretanto todos nós professores da rede estadual, estamos enfrentando as consequências da política educacional no município pelo ex-prefeito César Maia. É verdade que estamos de mãos amarradas, contudo podemos nos organizar e debater esses problemas avaliando críticamente a política educacional que está sendo utilizada, pois caso contrário o nosso silêncio vai permitir que a culpa pela má qualidade da educação seja transferida para nós. Temos que mostrar para a sociedade e para as autoridades os problemas estruturais que nos impedem de fazer o nosso trabalho corretamente.
    Abraços

    Graça Aguiar

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  4. Sou professora municipal do Rio de Janeiro, de um CIEP , num local de comunicade carente e fico muito triste em ver o descaso das autoridades para com alunos e professores. Falta material, estrutura, disciplina, higiene, enfim, tudo o que um ser humano precisa para ser alfabetizado e tratado com dignidade. Os professores são muito cobrados e a maioria está adoecendo, com variados problemas físicos e emocionais. O sistema funciona mal, não oferece meios de se fazer um bom trabalho ,mas a cobrança é alta e o professor tem que fazer um "milagre". Os pais e a sociedade são isentados de qualquer responsabilidade, ficando tudo por conta da escola, que é hospital, clínica psiquiátrica, lar, creche, tudo ao mesmo tempo. E os professores não se unem, limitando-se apenas a criticar o trabalho da direção e dos colegas, esquecendo-se que o problema é mais amplo e passa do ambiente escolar. É um problema social e político. Precisamos nos unir, nós, professores, pais, diretores, sociedade,etc. buscando uma educação de qualidade, principalmente para os alunos de baixa renda.

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  5. A aprovação automática e a recuperação paralela não ajudam em nada a educação brasileira, pois se ajudassem, nós não veríamos os resultados desastrosos que vemos.

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