sábado, 1 de setembro de 2012

PROJETO AVALIAÇÃO REFLEXIVA

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O projeto AVALIAÇÃO REFLEXIVA, é fruto do nosso inconformismo com a baixa qualidade da educação pública, com o descaso com que a questão vem sendo tratada e porque não aceitamos ser transformados em bode expiatório para todas as mazelas atuais da educação.

Consideramos injusto o massacre da categoria promovido pela mídia, pelos especialistas e pelas autoridades que planejam, apresentam soluções, elegem culpados e impõem seus vereditos no conforto dos gabinetes, a anos luz da realidade da sala de aula.

Sentimos a obrigação de participar desse debate apresentando dados, estratégias e soluções baseadas na realidade cotidiana das salas de aula, confrontando o plano ideal com o plano real.

O desenvolvimento deste trabalho, só foi possível em função da nossa dedicação exclusiva ao magistério, mas que é uma condição inviabilizada pelo próprio sistema, que hipocritamente o cobra da categoria, mas não nos dá condições para tê-la. Para viver essa dedicação optamos, por questões ideológicas, a conviver com uma série de privações em função do baixo salário. Todas as cópias xerox das avaliações aplicadas para a coleta de dados foram custeadas com recursos próprios, como também todo o trabalho de digitação dos dados, confecção de tabelas e gráficos e digitalização do material foram por nós realizado.

Esse projeto resulta de diversas estratégias por nós desenvolvidas e aplicadas ao longo de nossa trajetória buscando o aperfeiçoamento da nossa prática pedagógica, o desenvolvimento dos nossos alunos e a luta por uma educação pública de qualidade. Colocamos neste projeto a experiência e os conhecimentos adquiridos em diversos setores fora do magistério, como também o resultado de pesquisas e estudos relativos à educação.

O nosso propósito é unicamente o desenvolvimento e o sucesso dos nossos alunos, e a nossa meta é uma educação pública de qualidade. A socialização de experiências e material didático é uma das propostas deste blog, disponibilizo para todos os colegas de cruz e profissão, uma ferramenta que possui amplas possibilidades. Solicito aos colegas que a utilizarem que compartilhem conosco os resultados obtidos, pois precisamos divulgar a nossa realidade e mostrar o abismo que separa o plano real do plano ideal e as falácias dos falsos paladinos da educação.

Além da sua utilidade prática, a Avaliação Reflexiva é uma centelha de luz que brilha nesta longa noite de desesperança que se abate sobre o magistério. Algumas das estratégias propostas, já foram colocadas em prática em anos anteriores nos dando a alegria de ver alunos considerados irrecuperáveis, superar os obstáculos e conquistar sua autonomia.

Pretendo publicar neste espaço, todas as etapas do projeto. Agradeço a todos os colegas que enviarem as suas críticas e sugestões que nos ajudem a aperfeiçoar este projeto, pois considero que esse é um projeto que pertence a toda a categoria. É uma arma que deve ser utilizada na nossa luta por uma educação pública de qualidade.


O PROJETO AVALIAÇÃO REFLEXIVA:


Fracassar só é grave quando não se consegue identificar as causas do insucesso. Avaliar e apreciar as razões de nossa incapacidade momentânea já é uma vitória. Organizar-se tecnicamente para reduzir progressiva e metodicamente a imperfeição é a melhor e a mais incontestável das funções pedagógicas.” Celestin Freinet.

Tendo em vista o grande número de alunos em recuperação neste bimestre, elaboramos para a recuperação paralela uma nova estratégia, que é a introdução da avaliação reflexiva que tem os seguintes objetivos:
Auxiliar o aluno a detectar os ruídos presentes em seu processo de aprendizagem.
• Criar – a partir da fala do aluno – mais uma ferramenta diagnóstica para detectar as dificuldades individuais de aprendizagem e auxiliar na elaboração de estratégias visando melhorar o desempenho da turma.
Criar uma ferramenta para reavaliar e reorientar a nossa própria prática pedagógica a partir do ponto de vista do aluno.
• Dar autonomia ao aluno - através do desenvolvimento do hábito da auto-avaliação - estimulando-o a ser um agente ativo que tem voz ativa no processo de avaliação da sua aprendizagem.
Aumentar a autoestima através da prática da elaboração de metas e do desenvolvimento de estratégias para atingi-las.
• Levar o aluno a perceber que o processo de aprendizagem se realiza através da parceria aluno/professor, conscientizando-o que a aprendizagem é um trabalho de equipe.
Fomentar o debate entre o corpo discente e o corpo docente visando o enriquecimento da prática pedagógica.
• Detectar fatores, fora do âmbito da escola, que estão interferindo no desempenho escolar e tentar resolvê-los junto com os responsáveis. 




PROCEDIMENTO: 


Ao entregar as avaliações reflexivas, o professor (a) deverá orientar a turma que ao terminar de fazer a avaliação, deve anotar em seu caderno as estratégias que pretende adotar para melhorar o seu desempenho antes de devolvê-la ao (a) professor (a).
•  As avaliações reflexivas ficarão de posse do (a) professor (a).
A nota do aluno – 2,0 (dois) pontos – será proporcional às questões respondidas, caso o aluno deixe uma das questões em branco, receberá apenas 1,0 (um) ponto.


PROCESSAMENTO DOS DADOS:


Os dados fornecidos pela avaliação reflexiva vão servir como base para a elaboração do planejamento da recuperação paralela como também serão utilizados para auxiliar e incentivar os alunos a colocarem em prática as estratégias de forma a atingirem as suas próprias metas. No terceiro bimestre, pretendemos fazer uma análise da eficácia desta estratégia cruzando os resultados das avaliações com as metas propostas pelos alunos na avaliação reflexiva realizada no segundo bimestre. 

MODELO:

RELATÓRIO DA 1ª FASE:


Por uma questão de ética, omitiremos a identificação das turmas e qualquer outra informação que possa identificar os alunos participantes deste projeto.

 
INTRODUÇÃO:


As autoridades responsáveis pela gestão educacional, os especialistas e a mídia frequentemente responsabilizam os docentes citando como fatores responsáveis pela péssima qualidade da educação pública: a incapacidade dos professores e a didática arcaica pouco atrativa das aulas e a formação deficiente. A   AVALIAÇÃO REFLEXIVA é uma ferramenta que pode nos ajudar a derrubar os mitos de que a evasão escolar, a repetência e o baixo rendimento, no ensino médio, são provocadas por fatores relacionado, exclusivamente, aos muros da escola sem qualquer relação com o mundo exterior, o que não é novidade para nenhum docente que vive o cotidiano da sala de aula, mas é sistematicamente negado pelos teóricos e especialistas em educação.


Constantemente, somos veladamente ameaçados pelos altos índices de reprovação e pressionados a aprovar alunos, sem condições, em função das “metas de produtividade” estipuladas pelos gestores. Neste caso a AVALIAÇÃO REFLEXIVA serve como um mecanismo de defesa ao indicar que os fatores responsáveis pelo baixo rendimento, em sua grande maioria, não tem ligação com a prática docente.
 
A reprovação, a repetência e a evasão escolar têm raízes anteriores ao ensino médio e a maioria dos fatores responsáveis estão fora da escola, logo a aprovação e a manutenção do aluno na escola não dependem única e exclusivamente ao docente, como podemos verificar nos gráficos.

Gráfico 1 - Turma A


Gráfico 2 - Turma A


Gráfico 1 - Turma B

 
Gráfico 2 - Turma B

Com base na análise dos dados coletados, apresentamos o relatório à direção da escola, que para nossa satisfação, está nos apoiando na execução deste projeto.

Em reunião com a diretora, a subdiretora e a coordenadora pedagógica da escola, ficou acertado que a execução desse projeto nas turmas A e B será um piloto que poderá, em função dos resultados apresentados, ser aplicado, no próximo ano letivo, à todas as turmas do 1º ano do ensino médio.


Às estratégias por nós desenvolvidas para serem aplicadas em sala de aula, foram acrescidas por outras referentes à atividades extra classe, desenvolvidas em conjunto, com a direção e a coordenação pedagógica. Elaboramos uma série de medidas visando modificar a mentalidade e os hábitos herdados do ciclo anterior, e sanar as dificuldades prejudiciais ao desenvolvimento e ao aproveitamento desses alunos, entre as quais destacamos:
o acompanhamento dos alunos que apresentam o perfil de candidatos à evasão e à dependência com a implementação de ações buscando reverter essas situações;  
• a realização de campanha para elevar a autoestima, valorização do estudo e esclarecimentos sobre os mecanismos do processo de aprendizagem;  
o desenvolvimento de parceria com os responsáveis objetivando o seu envolvimento no processo de aprendizagem através de esclarecimentos sobre o processo e a importância de sua participação;
• busca de soluções para fatores relacionados à condição econômica do alunos. 
No terceiro bimestre, faremos um relatório sobre o resultado e a eficácia das estratégias adotadas, visando dar continuidade às que apresentaram bons resultados e modificar as que não tiveram bom rendimento.

 

ANÁLISE DOS DADOS / RESULTADO:

Analisando os dados obtidos constatamos que a AVALIAÇÃO REFLEXIVA é uma ferramenta que superou, em muito, os objetivos pretendidos. Concebida inicialmente para detectar os fatores responsáveis pelo baixo rendimento, revelou-se também como uma importante ferramenta para sinalizar problemas futuros referentes à gestão da própria escola, como por exemplo: os possíveis candidatos à evasão escolar e a dependência estrategicamente planejada; os efeitos da superlotação das turmas e das múltiplas avaliações semestrais.

Os dados contidos neste relatório foram projetados a partir das AVALIAÇÕES REFLEXIVAS, aplicadas aos alunos das turmas ... pertencentes ao turno da tarde do ... , que ficaram em recuperação no segundo bimestre.

Os dados confirmaram que a reprovação, a repetência e a evasão escolar têm raízes anteriores ao ensino médio e a maioria dos fatores responsáveis estão fora da escola, poucos são os fatores citados relativos à prática docente, como podemos verificar nos dados obtidos nos gráficos acima. 

Outra contribuição da AVALIAÇÃO REFLEXIVA foi a sinalização das consequências decorrentes do processo de Aprovação Continuada, a popular “aprovação automática”- em 2012 ingressaram no Ensino Médio uma geração que durante todo o seu processo de aprendizagem foi submetido à esse processo Tais como:  
a mentalidade que a aprovação é um processo que depende exclusivamente do professor(a) que “dá nota”, “trabalhinho pra ajudar”, “pontinho por frequência”, etc.;
• desconsideração total pelo aprendizado e pelo estudo, já a finalidade da escola se resume em “dar o diploma”;
inexistência da noção de que a aprendizagem é um processo interativo que depende da interação aluno/professor;
• incapacidade para a reflexão e o raciocínio lógico; 
• dificuldade em leitura, interpretação e escrita;
•  vocabulário reduzido e  falta de hábito em usar a norma culta da língua, dificultam o entendimento da fala do professor(a); a leitura e a interpretação de textos e a expressão individual verbal ou escrita;
não conseguem entender que os exercícios e os trabalhos são ferramentas de aprendizagem; 
• desconhecimento que a aprendizagem é um processo cumulativo e que o aprendizado anterior é um pré-requisito para as próximas etapas;
o hábito de avaliações com questões de múltipla escolha em função da crença “na sorte do chute”, ou então com questões objetivas em dupla com consulta;
• a incapacidade para fazer uma avaliação com questões dissertativas objetivas (normalmente são entregue totalmente em branco); 
o condicionamento ao sistema de questionário para decorar ou consultar nas avaliações; 
• as dificuldades para seguir normas de conduta e atitudes propostas para o bom andamento da aula e para cumprir prazos de entrega de trabalhos, em respeitar o(a) professor(a) e funcionários da escola, para respeitar os colegas de classe; 
a falta de cuidado e capricho com seu material escolar; com a limpeza da sala e com a mobília da escola.
 
Verificamos que a mentalidade, de parte significativa, dos responsáveis por esses alunos em relação à escola e o processo de aprendizagem também foi influenciada pelo sistema da Aprovação Continuada.

A partir do momento que o aluno foi seguidamente aprovado, os responsáveis deixaram de se envolver e participar da vida escolar, pois não viam necessidade de fazê-lo. Esse afastamento dos responsáveis, em grande parte, foi possível graças a falta de conhecimento de muitos responsáveis sobre o funcionamento da aprendizagem o que os levam a confundir aprovação com aprendizagem. 


ESTRATÉGIAS PROPOSTAS:
  • Articular um sistema de parceria com os responsáveis, mostrando a importância e a necessidade, do seu envolvimento no processo educativo, conscientizando-os dos benefícios decorrentes do acompanhamento do cotidiano escolar para o desenvolvimento e sucesso do aprendizado. 
  •  Fornecer aos responsáveis noções do funcionamento processo de aprendizagem.
  • Encaminhar para as aulas de reforço os alunos e alunas com dificuldades em Língua Portuguesa.
  • No caso de alunos e alunas que trabalham para ajudar a família, encaminhá-los para os programas assistenciais existentes – Bolsa Família, Melhor Renda, etc.
  • Desenvolver de uma campanha para aumentar a autoestima das turmas: destacando o progresso individual conquistado; colocação de um banner na rampa de entrada da escola.
Banner

  • Realizar  oficinas de orientação e técnicas de estudo, após a conclusão do reforço.
  • Estimular e valorizar o hábito do estudo disponibilizando metodologias de estudo através de oficinas ministradas nos contraturnos;
  • Criar um mural na escola, contendo: técnicas de estudo; dicas; depoimento de alunos, etc.;
  • Incentivar a responsabilidade individual incluindo o cumprimento das estratégias propostas pelo aluno como uma das avaliação do período – todas as avaliações foram escaneadas nos permitindo fazer um acompanhamento individual. Cada aluno que apresentar resultados positivos – atingir a média – terá o bônus de 2,0 (dois) pontos.
  • Adoção de novas metodologias e práticas didáticas: avaliações privilegiando a leitura e a escrita. Trabalhos incentivando o desenvolvimento da criatividade. Atividades para serem realizadas em casa. Restringir ao mínimo o uso do quadro, priorizando o estudo dirigido para desenvolver e reforçar o hábitos de leitura, a reflexão e a habilidade de processar e sintetizar dados. Estimular o hábito do uso do dicionário.


CONCLUSÃO:

Esperamos que este projeto tenha êxito, e que possamos obter apoio para lhe dar continuidade. Entendemos que para o desenvolvimento e aproveitamento de todas as possibilidades que esta ferramenta oferece, é indispensável:
ter uma equipe multidisciplinar, envolvendo profissionais da área de pedagogia, psicologia, assistência social, etc.;
• suporte financeiro para custear o material referente a coleta de dados;  
• pessoal para fazer a digitação dos dados;
• recursos materiais e pessoais para as oficinas de técnicas de estudo;
recursos para permitir aos alunos a frequentar as aulas de reforço e oficinas;
auxílio e encaminhamento para os fatores ligados à problemas de saúde e financeiros.


Acreditamos, que é possível, termos uma educação pública com qualidade e continuaremos lutando para que a população de baixa renda, encontre na escola a porta para a sua autonomia.

A nossa meta é tornar a nossa sociedade mais justa e participar da formação de cidadãos conscientes e autônomos, pois temos consciência que uma educação pública de qualidade é um DIREITO e que não deve ser tratada como um FAVOR. 


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