segunda-feira, 25 de abril de 2011

APOIO E SOLIDARIEDADE AOS COMPANHEIROS QUE ATUAM NA SAÚDE PÚBLICA

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Para onde vai o Brasil sem educação e sem saúde? O drama dos funcionários da área de saúde é o mesmo dos funcionários do magistério. Baixos salários, falta de condições de trabalho, jornadas extenuantes, desrespeito e desvalorização. Diante dessa realidade pergunta-se, fazer curso superior pra que? Investir tempo e dinheiro para depois não ter nenhum retorno? Não resta nem mesmo a realização profissional, pois o sistema em sua precariedade, transforma o ideal em uma tortura cotidiana.

Que utilidade pode ter o ensino superior nesta conjuntura? Será válido somente para as profissões ligadas à produção industrial? É possível se tornar uma potência mundial sem educação pública e saúde pública de qualidade? O que adianta construir prédios de fachadas imponentes destinados à saúde e à educação, se no seu interior faltam médicos, professores e recursos materiais; com um mínimo de profissionais (sub) remunerados e sobrecarregados sem condições para atender a população?

A saúde e a educação pública brasileira estão na UTI, qualidade e valorização só mesmo nos discursos de campanha e nas propagandas oficiais, ao utilizar esses serviços o cidadão percebe que foi enganado, pois o atendimento é precário e de má qualidade.

O S.O.S. Educação em solidariedade a todos os profissionais da saúde pública, pública o desabafo M.S.B., um médico da rede municipal de saúde de Campos, município do estado do Rio de Janeiro, que foi postado no Blog da Professora Luciana em 19/04/2011.


Boa tarde, sou médico, e estou enviando este protesto que gostaria que fosse repassado e publicado, se possível.

Este texto foi repassado para o sindicato dos médicos, ministério público, ministério do trabalho, veículos de informações e outro blogs influentes e formadores de opinião. Desejo com isso que se faça justiça para o bem da população campista e da classe médica desta cidade. Acredito que juntos podemos fazer e mudar muita coisa.

Grato.


Escrevo este mail com o intuito de saber o que está acontecendo com a saúde, com a classe médica, com a dignidade de nossa classe. Gostaria também, sinceramente, de saber o que tem sido feito para defender, efetivamente, nossa categoria, deveras humilhada – esta é a palavra, humilhada.


Não é difícil constatar a insatisfação generalizada dos profissionais médicos desta cidade, assim como dos outros profissionais que atuam na saúde. Estamos sobrecarregados, cansados, somos mal remunerados e assaltados. Mostramos a cada dia, pela ausência de atitude, que nem ao menos nos resta dignidade. Pois vejo, claramente, no silencio que se faz presente, a conivência.


Quem não fala, não grita, não reage, ou está satisfeito ou está morto. O que estamos? Mortos ou satisfeitos?


Aqui em Campos, e também nacionalmente, podemos observar uma conduta covarde e preocupante, fruto da incapacidade, falta de compromisso e falta de vergonha de nossos governantes que, insistentemente, apontam como culpado e responsável, toda a classe médica pelo caos que se encontra na saúde. Desde sempre é muito fácil delegar a culpa, muito conveniente. A imagem do médico tem sido manchada com adjetivos degradantes. Nos chamam de preguiçosos, desumanos, gananciosos, insensíveis, somos os verdadeiros carrascos, os responsáveis pela regência de toda esta sinfonia desafinada que é a saúde desta cidade.


Os políticos e veículos de informação mostra-nos como vilões da saúde, inimigos dos pacientes, quando também somos vítimas. Assim como os enfermos, somos vítimas de políticas precárias de saúde, governantes desalmados, irresponsáveis, sem vergonha, criminosos, que não têm um pingo de preocupação com a saúde do próximo, não se abalam ao ver (talvez nem vejam mesmo) pessoas sofridas e sofrendo com a falta de recursos. É mais fácil culpar o médico, que atende.


Propagam um discurso que temos vários empregos e somos, então, “gananciosos”. Mas com o salário defasado do município - pra não dizer vergonhoso - como não ter mais de um emprego para garantir um padrão de vida digno? Se para os políticos, artistas, empresários e qualquer outra classe profissional, isso não é julgado, porque o médico é condenado a mercenário?


Denunciam e reclamam que o médico faz consulta de dois minutos e que nem ao menos olha na face do paciente que atende. Mas não dizem que temos que dar conta de atender cerca de 30 pacientes por hora para que a espera dos mesmos não seja superior a 3 horas. Alguém aqui sonhou em ser médico para exercer esta profissão desta forma?


Infelizmente a classe menos favorecida não consegue enxergar a real dimensão do problema e se limita a reclamar do atendimento que demora, do doutor que não trocou sua receita de remédio controlado, da ausência de médico em postos (como se médico fosse vagabundo que não quer trabalhar). Acredita em discursos fúteis, rasos e descarados de políticos. Porém, nós, que graças a nossa educação, temos a visão além do alcance, que não somos ignorantes, por covardia agimos como se fôssemos. Somos massacrados e nos calamos. Desta forma, consentimos.


A rede de atendimento nesta cidade encontra-se em colapso. Não existe atenção básica. Existem postos de saúde que apresentam um volume absurdo de atendimento, centenas de pessoas por dia passam na clinica médica dos principais postos. Pacientes graves se misturam com pacientes que deveriam estar sendo acompanhados em nível ambulatorial, mas não existe ambulatório, não existe PSF, não existe lugar para renovação de receitas de uso contínuo. Se a atenção básica é nula, caros amigos, sabemos que isso explodirá em algum momento, de alguma forma. O que temos então, é um aumento absurdo de casos de AVC, IAM, Morte súbita,


Insuficiencia renal, cegueira, ICC descompensada, doentes descompensados, lesados, mutilados, mortos diariamente, incapacidades e mais incapacidades temporárias e definitivas, por pura falta de atenção básica. Com isso temos PUs, Hospitais e UTIs absurdamente lotados. Não há vaga suficiente para a demanda. O que está errado? Deveríamos ter 500 leitos de UTI ou evitar que este paciente venha necessitar de um leito na mesma?


E o médico é o “culpado”. Quando dizemos que não há vaga em UTI, estamos com má vontade.


Se encaminhamos para outra emergência, somos preguiçosos. Se não renovamos uma receita de uso contínuo em um posto de urgência, somos insensíveis... e por aí vai. Os governantes municipais sugerem que a responsabilidade é nossa, dos médicos, quando na verdade eles são os responsáveis pela gestão e tem o poder e obrigação de resolver esta situação.


Nesta cidade o foco não é a saúde do povo, o foco é a política, o circo, o marketing, o populismo barato..


Onde está o sindicato dos médicos (SIMEC), que deveria representar nossa classe ? Estão vendados também? Por que se calam? Vocês nos representam.


Por que não iniciar uma campanha, uma paralização? Qualquer coisa que mostre que estamos vivos e que merecemos respeito. Qual o motivo do silencio? Será que está tudo bem?


Onde está o Ministério público desta cidade? Também estão vendados? É conveniente fechar os olhos?


Não existe lei trabalhista neste município? Onde está o ministério do trabalho?


Vocês sabem o valor do salário que recebemos? Vocês sabem os descontos incidentes sobre o mesmo? Sabem o salário base da prefeitura para os médicos contratados? Vocês tem conhecimento que todos os médicos contratados nesta cidade não tem direito a contra-cheque (e sabemos que isso é direito do trabalhador)? Sabem que nós não sabemos qual o valor exato do nosso salário? Como contratados da prefeitura de Campos não temos acesso a valores salariais, descontos, abatimentos e não podemos ter, eles se recusam a nos fornecer qualquer tipo de informação sobre isso, pois não podemos ter acesso a valores, já que a contratação é irregular e não pode existir provas. Não existimos como funcionários para esta prefeitura, nosso contrato não existe e não pode existir, perante um ministério público, que está vendado.


Vocês sabiam que no inicio de cada ano, quando recebemos o nosso comprovante de rendimentos, este vem com descontos de Imposto de renda inferior a faixa salarial correspondente por LEI. Sabiam que a prefeitura de Campos desconta 6%, 10% de IR na fonte, quando deveria estar descontando 22%, 27,5%? Sabiam que eles informam que descontam 22%, mas na verdade não descontam nem a metade? Somos tapeados. Sabiam que descontam além do teto do INSS? INSS este que não é repassado para a previdência. Sabiam que temos que pagar um absurdo de imposto de renda simplesmente porque o mesmo não foi recolhido corretamente, como manda a lei, na fonte? E somos, no inicio de cada ano, presenteados com esta informação. Sem qualquer explicação. Como se o nosso salário fosse enorme e justo. O salário que já é vergonhoso, é na verdade uma ilusão, é ainda menor.


O sindicato age como se não soubesse, o ministério público fecha seus olhos, o ministério do trabalho finge que não sabe... e os médicos, ficam calados, como se tudo estivesse ótimo, afinal de contas...se alguém falar alguma coisa, será perseguido, demitido, execrado e, como todos, temos contas para pagar.


Não acho justo uma pessoa gritar sozinha por todos e ser perseguida por isso, pois sabemos que é isso que acontece neste feudalismo( que é a nossa cidade), enquanto existe um sindicato que deveria ser a voz de toda uma classe. Sindicato este que somos obrigados a contribuir anualmente. No mês que passou todos tiveram descontos do sindicato em seus salários, várias vezes, diga-se de passagem. Um vínculo – um desconto sindical. Dois vínculos – dois descontos sindicais. Tudo para o mesmo sindicato. E o que vocês estão fazendo pela classe?


Vocês podem dizer que estas acusações são graves e que precisam de provas. São graves sim.


Querem provas? Procurem saber. Levantem de suas cadeiras e vão na prefeitura. Cadê o ministério público? O ministério do trabalho? Solicitem documentos. Provavelmente eles não fornecerão, quem deve, teme. Mas está tudo lá. A função de fiscalizar este absurdo é de vocês.


O que está faltando para que seja tomada uma atitude a altura da situação, o que falta pra darmos um basta nisso? Por que não existe fiscalização neste município?


Acreditem, esta não é apenas a minha opinião, não é uma crítica pontual, é unanimidade na classe médica defendida e representada por vocês.


Precisamos de uma atitude, já.


M.S.B
Postado por PROFª LUCIANA às Terça-feira, Abril 19, 2011


Fonte: http://lucianaprofessora.blogspot.com











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