Brasil caminhava pela areia da praia, tonto e cambaleante (efeito da farra de carnaval). Repentinamente, ele se deparou com um velho, de longas barbas brancas, corpo magro e visivelmente doente, carregando um livro debaixo do braço.
Assustado com a aparência daquele senhor, Brasil perguntou-lhe:
– Quem é você?
– Não está se reconhecendo? – indagou o velho – Eu sou você amanhã.
O jovem Brasil, que já estava mareado pela bebida, ficou mais zonzo ainda:
– Quer dizer que eu serei assim no futuro?
– É claro. A idade chega para todo mundo, mas bem que você poderia ter cuidado melhor da sua aparência e da sua saúde, né? É por causa do seu desleixo que estou assim, doente e desmazelado.
– E onde você mora?
– Num barraquinho aqui perto.
– Barraquinho? Pensei que quando eu ficasse velho, moraria numa mansão igual à da China e dos Estados Unidos.
– Meu caro jovem, você tinha tudo nas mãos para ser rico e próspero. Só precisava se esforçar. Mas como você não quis trabalhar, não conseguiu mais nada na vida e ainda perdeu o que tinha.
– E eu... quer dizer... você mora sozinho?
– Vivo com minha companheira, a Venezuela. Ela está velha, desdentada, mais doente e mais pobre do que eu, mesmo assim eu gosto dela. Vivemos felizes... Quer conhecer meu cafofo? Lá é de pobre, mas é limpinho, viu?
– Outra hora. E que livro é esse debaixo do seu braço?
– Não faço a mínima ideia. Eu não sei ler. Uso esse livro como apoio para minha cabeça quando preciso descansar.
– Como isso é possível? Eu sou letrado. Achei que na minha terceira idade eu seria um homem douto e sábio.
– Eu sabia ler, mas de repente esqueci tudo. Outro dia, eu disse para minha companheira: Hoje sou um abitolado, porque não investi o suficiente na minha própria Educação. A Educação é como um remédio que devemos tomar a vida toda; senão, a doença retorna, e aqui está mais uma doença da qual padeço: o analfabetismo.
Após falar isso, o velho Brasil deitou-se na areia e colocou o livro sob a cabeça. Pediu licença ao rapaz e disse que precisava descansar para caminhar até o barraco.
Minutos depois, o jovem Brasil foi encontrado na mesma praia, dormindo com a cabeça sobre uma garrafa de bebida. Os amigos o chamaram. Ele acordou. Levantou com dificuldade. Gritou:
– Que bom! Era tudo um sonho. Vamo galera! Vamo pra avenida curtir mais um dia de Carnaval.
Este texto é minha contribuição para a blogagem coletiva “Brasil, 14 de novembro”, promovida pelo blog Cachorro Solitário, do Diogo C. Scooby.
Sobre o Autor: Valdeir Almeida é professor de Língua Portuguesa e Orientador Acadêmico de Graduação. Produz os textos do Ponderantes e do Painel do Educador
Fonte:http://www.ponderantes.com.br/2009/11/o-brasil-de-amanha.html
Assustado com a aparência daquele senhor, Brasil perguntou-lhe:
– Quem é você?
– Não está se reconhecendo? – indagou o velho – Eu sou você amanhã.
O jovem Brasil, que já estava mareado pela bebida, ficou mais zonzo ainda:
– Quer dizer que eu serei assim no futuro?
– É claro. A idade chega para todo mundo, mas bem que você poderia ter cuidado melhor da sua aparência e da sua saúde, né? É por causa do seu desleixo que estou assim, doente e desmazelado.
– E onde você mora?
– Num barraquinho aqui perto.
– Barraquinho? Pensei que quando eu ficasse velho, moraria numa mansão igual à da China e dos Estados Unidos.
– Meu caro jovem, você tinha tudo nas mãos para ser rico e próspero. Só precisava se esforçar. Mas como você não quis trabalhar, não conseguiu mais nada na vida e ainda perdeu o que tinha.
– E eu... quer dizer... você mora sozinho?
– Vivo com minha companheira, a Venezuela. Ela está velha, desdentada, mais doente e mais pobre do que eu, mesmo assim eu gosto dela. Vivemos felizes... Quer conhecer meu cafofo? Lá é de pobre, mas é limpinho, viu?
– Outra hora. E que livro é esse debaixo do seu braço?
– Não faço a mínima ideia. Eu não sei ler. Uso esse livro como apoio para minha cabeça quando preciso descansar.
– Como isso é possível? Eu sou letrado. Achei que na minha terceira idade eu seria um homem douto e sábio.
– Eu sabia ler, mas de repente esqueci tudo. Outro dia, eu disse para minha companheira: Hoje sou um abitolado, porque não investi o suficiente na minha própria Educação. A Educação é como um remédio que devemos tomar a vida toda; senão, a doença retorna, e aqui está mais uma doença da qual padeço: o analfabetismo.
Após falar isso, o velho Brasil deitou-se na areia e colocou o livro sob a cabeça. Pediu licença ao rapaz e disse que precisava descansar para caminhar até o barraco.
Minutos depois, o jovem Brasil foi encontrado na mesma praia, dormindo com a cabeça sobre uma garrafa de bebida. Os amigos o chamaram. Ele acordou. Levantou com dificuldade. Gritou:
– Que bom! Era tudo um sonho. Vamo galera! Vamo pra avenida curtir mais um dia de Carnaval.
Este texto é minha contribuição para a blogagem coletiva “Brasil, 14 de novembro”, promovida pelo blog Cachorro Solitário, do Diogo C. Scooby.
Sobre o Autor: Valdeir Almeida é professor de Língua Portuguesa e Orientador Acadêmico de Graduação. Produz os textos do Ponderantes e do Painel do Educador
Fonte:http://www.ponderantes.com.br/2009/11/o-brasil-de-amanha.html
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