Flávio Aquistapace
- 16/08/12
“O aumento do Ideb não está diretamente
vinculado à aprendizagem. As crianças são mais aprovadas não exatamente porque
sabem ou se desenvolveram mais, mas porque o sistema começa a garantir um fluxo
escolar melhor.” Essa é a avaliação da coordenadora da área de Educação Formal do Instituto Ayrton Senna, Inês Miskalo, a respeito dos resultados do Ideb
2011, divulgados nesta terça (14) pelo Ministério da Educação (MEC).
Segundo ela, para poder dizer que o
país avançou na qualidade da educação, seria necessário elevar os índices
de aprendizagem medidos pela Prova Brasil e pelo Saeb, o que ainda não ocorre
de forma satisfatória. Inês avalia que o aumento do Ideb deve-se às melhores
taxas de aprovação dos estudantes.”O fluxo escolar pode estar melhorando, mas
não necessariamente com bom desempenho”, pondera.
Leia entrevista completa:
Portal Aprendiz – Como a senhora avalia
os resultados do Ideb 2011 divulgados pelo MEC?
Inês Miskalo – A evolução deve-se mais ao fluxo escolar, já que os resultados da
Prova Brasil estão estabilizados. Não existe uma melhoria do aprendizado do
aluno. Portanto, o aumento do Ideb não está diretamente vinculado à
aprendizagem. As crianças são mais aprovadas não exatamente porque sabem ou se
desenvolveram mais, mas porque o sistema começa a garantir um fluxo escolar
melhor. Para poder dizer que o país avança você tem que aumentar o índice de
aprendizagem medido pela Prova Brasil e Saeb. As mudanças não representam um
salto de aprendizagem. É necessário olhar para os dados que mostram o quanto a
criança está ou não lendo melhor, usar a aprendizagem, ou seja, o
desenvolvimento no dia a dia.
Aprendiz – Ao que se deve o aumento
da aprovação, se não há aprendizagem?
Inês – Alguns fatores: um ciclo que não reprova – e não que reprovar seja
necessariamente a solução, não se trata disso –, ou que aprova a criança sem
ela saber, ou ainda os casos de abandono da escola no meio do ano por parte
daquele aluno que já sabe que será reprovado, por exemplo. É o problema da
educação cumulativa. São aquelas dificuldades que a criança traz desde os anos
iniciais, e que a leva a concluir a formação com deficiências. Ela vai ser
aprovada, mas leva as lacunas da formação inicial, que são reveladas lá nos
anos finais. Gera-se um não desenvolvimento cumulativo. Estamos num processo de
desenvolvimento da educação básica sem garantir qualidade para esses alunos que
transitam nesses anos. O fato do aluno ter chegado ao final do ensino médio não
significa que tenha um conhecimento compatível com o que se espera de um aluno
daquele ciclo.
Aprendiz – E em casos de aumento do
Ideb?
Inês – Muitas vezes, quando o Ideb cresce, é porque os estudantes estão sendo
menos reprovados, e não necessariamente aprendendo mais. Pode estar ocorrendo
uma exclusão dos que estão piores e aprovação dos que estão melhores, por
exemplo. Podemos chegar a uma estagnação do Ideb. O fluxo escolar pode estar
melhorando, mas não com bom desempenho. Só que o fluxo é limitante, uma hora
deixará de crescer. Já o desempenho, não tem limite. É esse que não conseguimos
ainda atacar.
Aprendiz – Como os dados podem
aprimorar a aprendizagem em sala de aula?
Inês - Precisa pegar a prova Brasil, verificar quais são os descritores, isto
é, quais competências foram avaliadas, ler o resultado com o espírito do
diagnóstico para poder saber onde se concentram as dificuldades e o que pode ser
feito na sala de aula para superar, acompanhando o histórico de cada local em
que a prova foi aplicada e sua evolução ao longo do tempo. Cada escola é uma
escola, cada turma é uma turma. É preciso reconhecer as especificidades locais.
O Ideb não pode ser visto como um fim, mas como um meio diagnóstico para mudar
a realidade. Se for visto como rankeamento não serve pra nada. Passada essa
fase de divulgação, é necessário que o país se debruce sobre os dados. É
preciso ver onde houve crescimento sustentável, se ele é significativo para
justificar que na próxima edição esperemos por um resultado diferente – ou não.
Essa é a pergunta que tem de ser posta. O país deve observar se esse desempenho
mostrado é consistente.
Ideb 2011
1ª a 4ª série
A média nacional nas séries iniciais ficou em 5, um aumento de 0,4 ponto em relação a última avaliação, realizada em 2009. Além disso, todos os estados atingiram suas próprias metas.
A média nacional nas séries iniciais ficou em 5, um aumento de 0,4 ponto em relação a última avaliação, realizada em 2009. Além disso, todos os estados atingiram suas próprias metas.
5ª a 8ª série
Nas séries finais do ensino fundamental, a média nacional ficou em 4,1, superando a meta de 3,9. No entanto, seis estados ficaram com notas inferiores às previstas: Alagoas, Roraima, Amapá, Pará, Sergipe e Rio Grande do Sul.
Nas séries finais do ensino fundamental, a média nacional ficou em 4,1, superando a meta de 3,9. No entanto, seis estados ficaram com notas inferiores às previstas: Alagoas, Roraima, Amapá, Pará, Sergipe e Rio Grande do Sul.
Ensino Médio
A média nacional da etapa do ensino que mais sofre com evasão ficou em 3,7. Nesses anos, os dados mostram que o Distrito Federal e mais nove estados tiveram uma piora dos resultados.
A média nacional da etapa do ensino que mais sofre com evasão ficou em 3,7. Nesses anos, os dados mostram que o Distrito Federal e mais nove estados tiveram uma piora dos resultados.
Ideb
O Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb), medido a cada
dois anos, é calculado a partir do desempenho dos alunos no Saeb e na Prova
Brasil e das taxas de aprovação obtidas pelo Censo Escolar. Criado em 2007, o
índice obedece uma escala de 0 a 10, sendo 6 a média dos países desenvolvidos.
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