Frei Betto: Em nome de quê?
Autor de “A Mosca Azul – Reflexão sobre o Poder”
Rio - Muitos pais, professores e psicólogos se queixam de que parcela da juventude carece de referências morais. Inúmeros jovens mergulham de cabeça na onda neoliberal de relativização de valores. Tornam público o privado (vide YouTube), são indiferentes à política e à religião, praticam sexo como esporte e, em matéria de valores, preferem os do mercado financeiro.
A crescente autonomia do indivíduo, apregoada pelo neoliberalismo, faz com que muitos jovens se perguntem: em nome de quê devemos aceitar normas morais além das que decido que me convêm? E as adotam convencidos de que elas possuem prazo de validade tão curto quanto o hambúrguer da esquina.
Quem é hoje capaz de ditar o comportamento moral? A Igreja? A católica certamente não, pois pesquisas comprovam que a maioria de seus fiéis usa preservativo, não valoriza a virgindade pré-matrimonial e frequenta os sacramentos após contrair nova relação conjugal.
As evangélicas insistem no moralismo individual, sem olho crítico para o caráter antiético à natureza desumana do capitalismo. O Estado também não é, já que pauta suas decisões de acordo com o jogo do poder e o faturamento eleitoral.
O enunciador coletivo é o Mercado. Ele corrompe crianças por induzi-las ao consumismo precoce; os jovens ao seduzi-los a priorizar como valores a fama, a fortuna e a estética individual; e as famílias, através da hipnose televisiva.
As futuras gerações conhecerão a barbárie ou a civilização? A neurose da competitividade ou a ética da solidariedade? A globocolonização ou a globalização do respeito e da promoção dos direitos humanos?
Pais, professores e todos que se interessam pela juventude estão desafiados a dar resposta a essas questões.
Fonte: O Dia Online – Conexão Leitor – 12.09.10.
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