quinta-feira, 9 de maio de 2013

MOBILIZAÇÃO OU GALINHA AO MOLHO PARDO?

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Perplexidade, decepção, vergonha e medo, muito medo foi o que senti ao ver a Assembleia, realizada ontem (08/05/13) na Hebraica, vazia. 

Caminhamos para o precipício e poucos se dão conta desta realidade, direitos estão sendo solapados, a educação está sendo privatizada e quase ninguém se dá conta da gravidade da situação.

A categoria está pulverizada. A força de adesão que tornou possível as greves históricas e os ganhos da categoria se perdeu. O que mudou e produziu esse esgarçamento do tecido docente? 


A resposta é simples e pode ser detectada nas redes sociais. Foi o alívio paliativo de pressão da necessidade através de mecanismos que dão a ilusória sensação de sair do vermelho, provocado pelos baixos salários, através dos “penduricalhos” – GLP, dobras, bônus, ajuda de custo, certificação, etc. que nos tirou a energia da mobilização.


Produtividade.
Optando pela via de que “de grão em grão a galinha enche o papo”, parte considerável da categoria, iludida se sente, momentaneamente, aliviada da pressão provocada pelos baixos salários e não vê razões para aderir à greve. Essa é a estratégia que vem sendo usada, com êxito, pelos governantes para desunir e enfraquecer a categoria. Ora se as galinhas estão felizes em se esfalfar para viver de grão em grão, vamos mantê-las com um suprimento baixo de grãos, pois uma galinha faminta é submissa e fácil de ser manipulada e amedrontada! Assim o galinheiro pouco a pouco, vai sendo desmontado e as galinhas famintas não percebem que de migalha a migalha, estão caminhando para a panela.


É triste, lamentável e vergonhoso ver nas redes sociais que a maior parte da categoria se preocupa mais em saber, quando vai ser jogado o próximo punhado de ração, do que com a destruição da educação e a anulação dos direitos adquiridos em anos de luta. Entrem nas comunidades do Orkut e do Facebook e vejam como a nossa categoria, alienada e miserável se presta a esse triste papel. O que importa é saber com sai o auxílio x, a bolsa y ou a confirmação da promessa (nem sempre cumprida) do bônus z. 


Isolamento e alienação.


Enquanto a galinha mantêm os olhos fixos nas migalhas, no alto decretos, leis e portarias estão sendo propostos, votados e aprovados para destruir os direitos legais pertencentes à categoria. Leis não cumpridas como, por exemplo, a data-base; redução de vagas de trabalho com o fechamento de escolas, a otimização de turmas, a implantação do NEJA e do AUTONOMIA e com o ensino à distância. Professores estão sendo substituídos por aparelhos de televisão e computadores, há professores com a carga horária pulverizada em diversas escolas, pagando para ir  trabalhar,porque os auxílios transporte e alimentação não cobrem essa demanda. A educação se encontra na mão de leigos caindo, vertiginosamente, em matéria de qualidade e bilhões que deveriam ser investidos nos docentes e nas escolas, estão sendo desperdiçados em propaganda e indo engordar as contas de fundações, ONGS e institutos criadas pela iniciativa privada para abocanhar as verbas públicas destinadas à educação. Nem mesmo o fato das políticas educacionais estarem sendo elaboradas por instituições financeiras internacionais – BID, OMC, PISA - é motivo de preocupação, indignação e revolta.


Poucos se dão conta disso, a maioria não percebe que a faca está sendo amolada e a água da panela está quase fervendo. 


Acordem, porque a condição de galinha de molho pardo é irreversível!

LUTAR E RESISTIR É PRECISO!

2 comentários:

  1. Acrescento parte de um texto de Pedro Almeida Cabral, que em análise da situação do funcionalismo público de Portugal, afirma: "Governar pelo medo: Primeiro, assustam-se as pessoas com decisões que as podem condenar a uma vida de dificuldades. Depois, diz-se que afinal não era nada. Finalmente surgem medidas alternativas, tão graves ou piores que as que foram rejeitadas. Primeiro o Governo afunda-nos. Depois, salva-nos num acto de generosidade. Mas, na verdade, o afundamento e a salvação consistem exactamente no mesmo." O diálogo é necessário?

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  2. Agradeço a sua colaboração, pois é importante que se saiba que a situação vivida pelos professores portugueses é bem parecida com a nossa. Esse se dá em função da adoção da política educacional neoliberal gestada pelo BID e pela OMC. A diferença é que o processo de implantação desse pacote em Portugal se encontra mais adiantado do que o nosso.Tenho acompanhado as barbaridades feitas com vocês e pouco tempo depois, passamos pelo mesmo suplício.

    A questão do medo é uma estratégia neoliberal. Para se aprofundar no assunto sugiro que leias A Doutrina do Choque - A Ascensão do Capitalismo do Desastre escrito pela jornalista e pesquisadora Naomi Klein ou assista ao documentário que se encontra disponível na Internet.

    Gostaria muito de ler, e se possível, publicar o texto de Pedro Almeida Cabral.

    Grande abraço

    Graça Aguiar

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