quarta-feira, 8 de maio de 2013

Nova EJA, Velhos Problemas ...

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A eficácia das “inovações” implantadas na rede estadual do Rio de Janeiro está longe de ser a maravilha noticiada pela mídia e alardeada pela propaganda oficial. A realidade vivida por professores e alunos nas escolas da rede estadual é bem diferente.

Na Comunidade Professores do Estado do RJ foi colocada a seguinte questão a respeito da NEJA (Nova Educação de Jovens e Adultos): “Gostaria de saber HONESTAMENTE como tem sido a implantação do Nova EJA”. Vocês tem usado o material didático? Às vezes parece meio surreal, com textos longos e inadequados para adultos. Será que essa impressão é só minha?
Em resposta a essa questão, o professor Filipe Costa Coelho faz uma análise da NEJA, mostrando que no plano real as coisas são bem diferentes: 

“Concordando com a crítica relacionada à qualidade da formação de nossos grupos, compartilho de boa parte de sua opinião. Considero vários trechos do material, sem sombra de dúvida, inadequados. E considero, por outro lado, que traz pontos interessantes. Trabalho com meus grupos aquilo que acredito estar dentro da realidade deles, o que proporcionará uma melhor reflexão e conclusões mais enriquecidas... 

Em tempo: o tamanho das letras é muito pequeno (há estudantes "jovens há mais tempo" que apresentam dificuldade em ler textos com aquele tamanho de fonte).

O material, equivocadamente, parte do princípio que nossos grupos estão plena e a qualquer momento, conectados à internet. Grave erro! Na escola onde trabalho, sequer há tv e leitor de dvd funcionando...

Estas são minhas opiniões em relação ao que postou e perguntou. Mas, em relação à NEJA, acrescento:

- A SEEduc e a Fundação CECIERJ sabiam, desde o ano passado, que haveria mudanças na EJA. Ainda assim, a capacitação que fiz (em fevereiro, antes do carnaval) beirou o caos. Desorganização absoluta, atropelos, falta de pessoal... as monitores(as) pouco puderam esclarecer em relação à nova modalidade. À maioria de nossas perguntas, escutamos a mesma resposta: "Infelizmente, não sei informar...".

Sabemos que a retórica governamental aponta, inclusive em estatísticas produzidas e amplamente publicizadas, que a Educação pública estadual passa por uma "revolução". Deixamos o 26º lugar no ranking do IDEB e, agora, ocupamos o 14º, anunciou ano passado o secretário da pasta, que é Mestre em omitir informações importantes, além de manipular dados e publicar mentiras no sítio virtual da SEEduc (essas informações são replicadas por parte da grande mídia, a serviço da atual gestão. Há a outra parte midiática que nos ignora solenemente...). Ainda que considerável parte de noss@s estudantes continuem falando "discosta", "menas", "entertido" e por aí vai... A escrita... Bem, a expressão escrita... Deixemos de lado essa parte, ao menos por ora...

- O material da NEJA (no caso de Ciências Humanas e suas Tecnologias) chegou ao colégio onde trabalho com a modalidade, simplesmente com 6 semanas de atraso (12 aulas)...

Muito antes disso, durante o carnaval inclusive, visitei, incontáveis vezes a tal (labiríntica) "plataforma moodle" em busca de esclarecimentos, postando dúvidas e questões. Ninguém (absolutamente NINGUÉM) do "alto escalão" dignou-se a responder. Obtive (eu e alguns colegas), respostas de tutores e tutoras "quase tão perdidos quanto nós"... Mas a Coordenação do projeto... Essa, manteve-se sempre em silêncio... 

O material não chegava, mas as tarefas eram colocadas na plataforma, com prazo para entrega. Cobranças as mais variadas, inclusive nos encontros presenciais...

Trabalhei até onde minha dignidade profissional suportou. Diante de tanto descaso, de tanta negligência, postei, claramente na plataforma, para as tutoras e cursistas que, a partir daquele momento (ainda em março) deixaria a plataforma e só retornaria quando as 3 turmas com as quais trabalho estivessem com os livros em mãos. Apelei até para a coordenação geral, informando o nome da diretora e o endereço postal para entrega do material que deveria estar na UE desde 19 de fevereiro.

Sumi da plataforma. Até então, não tinha recebido conceito para as tarefas entregues. Meu plano de curso foi por água abaixo, visto que as turmas não tinham livro, com mais de 3 anos de estado não tenho "laptop" e a sala de vídeo do colégio está com os equipamentos defeituosos, em via de serem substituídos...

Cansei de bancar o otário, o palhaço diante de uma minoria de "gestores(as)" insensíveis e que parecem comprometidos(as) apenas em garantir gratificações, abonos e vantagens, ignorando a realidade do "chão da escola" e as sérias dificuldades que enfrentamos no cotidiano.

Enquanto isso, a preparação de aulas, a elaboração, a aplicação e a correção das avaliações, o preenchimento de 14 diários de classe, o (pontual) lançamento de notas no sistema, consumiram (e seguem consumindo) muito mais do que 4 horas semanais...

Conclusão: fui obrigado (por eles) a abandonar as tarefas virtuais da NEJA. Com minhas 3 turmas, sigo realizando o trabalho e buscando tornar as aulas e encontros atrativos, tanto para mim quanto para eles e elas.

Apesar dos quadrilheiros liderados pelo governador, seguiremos tentando fazer nossa parte da melhor maneira possível... Não sem resistir, não sem denunciar.

Um abraço !”

Fonte: Orkut - Comunidade Professores do Estado do RJ

3 comentários:

  1. Olá pessoal do blog, muito legal o trabalho de vocês pelo menos tentando desmascarar essa corja do governo. Dito isso, estou encucado com um programa que vão implantar em Minas Gerais, se chama reinventando o ensino médio. O que será que o Senhor anão de jardim Anastasia está querendo com isso? Será que é a virtualização das escolas e os fins dos professores? Grande abraço à todos!

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    1. Caro(a) Gactf

      Obrigada pela visita e pelos comentários. Tudo isso é mais uma etapa relacionada a política educacional neoliberal,que tem como meta a privatização da educação. De país para país e de estado para estado, só muda o nome, mas o objetivo é o mesmo. Essa praga e mundial e está sendo implantada em diversos países, o que muda é apenas o ritmo. O Chile foi a primeira vítima,isto é a cobaia dessa política e por isso se encontra no estágio mais avançado. Portugal, Espanha e outros países também estão vivendo sob a ditadura dessa política que está destruindo tudo á sua passagem.

      Para saber mais sobre esse assunto, e o quanto isso ainda vai piorar, sugiro que leia Educação e Neoliberalismo- veja na seção páginas deste blog - lá você vai encontrar vários assuntos e notícias sobre a política educacional neoliberal.

      Só Deus para nos proteger e salvar a educação!

      Grande abraço

      Graça Aguiar

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  2. Vejam o site do G1 noticiando esse programa:

    http://glo.bo/12PTLi6

    E o correio de Uberlândia:

    http://www.correiodeuberlandia.com.br/cidade-e-regiao/escolas-estaduais-de-minas-gerais-recebem-o-reinventando-o-ensino-medio/#listagemComentarios

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