sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

Continuação da resposta a um comentário

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O comentário acima, feito por um leitor anônimo, é importante para todos nós que levamos o magistério a sério, pois mostra a imagem que grande parte da população tem da categoria e levanta muitas questões relativas aos profissionais da área da educação.

Como já escrevi anteriormente - clique aqui para ver a resposta dada - não pretendo desmenti-lo, pois concordo com você que há profissionais atuando na educação que se enquadram no perfil descrito acima, entretanto como em qualquer profissão existem maus profissionais, mas não podemos julgar toda uma categoria pela conduta irresponsável de alguns.

Concordo que pelo simples fato de entrar em várias salas de aula por dia, não quer dizer que se esteja trabalhando, há profissionais que entram e enrolam como também há médicos, parlamentares e policiais que fazem o mesmo. Mas a grande maioria entra e trabalha, ou seja, cumpre o seu dever. Os maus profissionais contam com a conivência dos alunos, que como cidadãos que pagam os nossos salários, também têm o dever de fiscalizar e reclamar quando o trabalho não for feito, entretanto não vemos a sociedade cobrando das autoridades competentes o retorno dos seus impostos.

Todos os anos é comum em todo o Brasil, turmas ficarem sem aulas por falta de professores, mas nunca vi nenhum aluno ou responsável procurar o conselho tutelar para exigir das autoridades a solução do problema. Há casos em que o concurso foi feito e os candidatos aprovados não são chamados, qualquer diretora ou diretor de escola já viveu o drama de passar o ano inteiro solicitando às secretárias de educação que enviem professor e nada é feito. A maioria dos alunos acha isso ótimo, pois aula vaga, como eles mesmos falam “é tudo de bom”.

Quanto à afirmação de que os professores são a única categoria que se aproveita da falta de supervisão e dos baixos salários para cruzar os braços, isso acontece em qualquer categoria, pois essa é uma atitude típica do o mau profissional, presente em qualquer lugar.

O mau profissional, não dá aula nem de quinze minutos, esse tipo realmente não faz absolutamente nada, é o queridinho dos alunos, pois sempre que pode libera a turma mais cedo, dá prova com consulta, passa trabalhos, que nunca corrige e no fim do ano aprova todo mundo. Ninguém vai até a diretoria reclamar desse espécime, felizmente ele é minoria. A grande maioria dos professores aproveita cada segundo dos 50 minutos para ministrar o conteúdo estabelecido pelo MEC e pelas secretarias de educação. Uma das nossas reivindicações, junto com o aumento de salário, é justamente o aumento do tempo de aulas, pois os famigerados, 50 minutos são insuficientes. Não temos medo do trabalho, gostamos do que fazemos e escolhemos a nossa profissão por vocação. A escola em tempo integral é uma das nossas bandeiras de luta.

A população não vê o que se passa na escola porque não quer, pois a lei permite aos responsáveis a fiscalização de tudo que ocorre na escola, não fazemos nada “escondido”, particularmente já tive a oportunidade de convidar responsáveis para assistir a aula junto ao filho, entretanto poucos são os pais que comparecem à escola. A falta de participação dos responsáveis e da comunidade é mais um problema que enfrentamos em nosso ofício, pois o acompanhamento da família é fundamental para o desenvolvimento do nosso trabalho.

É comum as pessoas pensarem que os professores trabalham pouco, considerando apenas o tempo de cada aula – 50 minutos – entretanto poucos sabem que a nossa jornada de trabalho não se limita apenas ao tempo em sala de aula. Temos que preparar aulas – não pense que damos sempre a mesma aula – pois cada turma possui especificidades que precisam ser contempladas, sem contar a elaboração de exercícios e atividades para a fixação de conteúdo; a elaboração de trabalhos, testes e provas e a correção de tudo isso. Cada professor leva pra casa no mínimo 300 testes, pois cada turma tem em média 50 alunos e cada docente tem no mínimo 6 turmas. Além disso, a profissão nos obriga ao estudo permanente, pois diariamente o conhecimento amplia as suas fronteiras.

A nossa luta contra os baixos salários é na realidade uma batalha em defesa da educação, pois o salário pago à categoria é um indicativo da pouca importância que é dada à educação pública pelas nossas autoridades, não se deixe enganar apenas pelas aparências, o valor dado ao trabalhador é proporcional à importância dada ao trabalho a ser realizado. A greve por mais antipática que seja, é um instrumento legal de todo os trabalhadores para corrigir as injustiças. A mídia não dá destaque, mas na realidade, todas as aulas que não foram dadas durante os períodos de greve são repostas, portanto os alunos não são prejudicados, assim sendo a greve da nossa categoria é a única que não penaliza a população, no caso das greves os únicos prejudicados somos nós, pois somos espancados pelas tropas de choque, rotulados de baderneiros pela mídia e hostilizados pela população. Portando todos aqueles que você vê participando das passeatas, são bons profissionais, pois os maus ficam em casa dormindo ou flanando nos shoppings.

Mais uma vez gostaria de agradecer o seu comentário, pois esse blog foi criado justamente para levar para o público a realidade do espaço escolar e desfazer os vários mitos que envolvem a nossa profissão.

Parabéns pelo seu interesse, pois se mais pessoas seguissem o seu exemplo certamente os maus profissionais seriam eliminados do nosso meio e o nosso trabalho seria mais respeitado.



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