O texto abaixo nasceu de uma reflexão sobre a indignação da população, manifestada em comentários postados, em diversos jornais online, sobre as greves dos docentes ocorridas em São Paulo, Minas Gerais e a paralisação realizada no Rio de Janeiro pela categoria. Analisando mais de 500 comentários postados sobre esses movimentos, percebe-se nas entrelinhas, que a motivação dessa reação encontra-se na figura do professor/professora, plasmada no imaginário popular.
A representação da figura do professor/professora tecida pelo imaginário coletivo coloca o indivíduo que a exerce no plano incorpóreo. O real significado da palavra aluno – ser sem luz – reforça essa imagem, professor/professota dentro dessa perspectiva é o guardião dispensador da luz. A divinização da profissão desloca o humano que a exerce do plano das necessidades materiais. Inconscientemente é tido como um ser divino, uma espécie de anjo tutelar, uma entidade sobrenatural. Logo, a sua razão de ser é a doação da luz materializada no saber. As atribuições desses profissionais extrapolam a o âmbito do conhecimento técnico para o qual ele é preparado, para além da capacitação técnica a sua função se estende à construção da identidade moral, psicológica, política e social do aluno. A docência é vista mais como missão do que profissão, colocando aqueles que a exercem em uma área indefinida, pois o objeto de sua ação é ao mesmo tempo material e imaterial, secular e espiritual.
Diferentemente do profissional da medicina - profissão também estigmatizada como missão – o médico tem uma missão direcionada para um objeto específico: o bem estar do corpo físico. Já a “missão” do docente não tem uma fronteira definida. A dimensão humana do docente é totalmente ignorada. Essa indefinição da missão do docente é extremamente prejudicial para o indivíduo que a exerce, pois ao mesmo não é permitido possuir/admitir as necessidades humanas consideradas normais para as outras categorias profissionais. Não é levado em conta que esse profissional necessite uma remuneração digna, de cuidados com a saúde e de tempo para a família e o lazer.
Concebido como uma fonte inesgotável deve sempre doar e nunca receber, deve ter paciência inesgotável para com todos, não deve adoecer e deve viver única e exclusivamente para a profissão, além de ter a capacidade milagrosa de remover todos os obstáculos que se interpõem entre o aluno e o saber, principalmente os de ordem estrutural. Professor/professora dentro desta perspectiva torna-se uma espécie de monge secular obrigado a cumprir votos sagrados de pobreza, celibato e renuncia. Essa imagem está tão arraigada, que é comum se ver profissionais da área constrangidos diante de suas necessidades humanas. Reivindicar melhores salários, condições dignas de trabalho, respeito e consideração soam como heresia, espera-se deste segmento uma postura de eterna filantropia e espírito de caridade.
A população esquece que o docente:
• não tem asas para ir para o trabalho voando e que depende de transporte como qualquer mortal (será, que é por isso que até agora não tem direito ao vale transporte?);
• como qualquer pessoa precisa de alimentos tipo: arroz, feijão, carne, etc. (o ticket alimentação faz falta);
• não tem a capacidade para enxergar no escuro e tem que pagar a conta de energia elétrica,
• não é dotado de telepatia para se comunicar e por isso tem que pagar telefone;
• não é um ser solitário e tem família para cuidar, alimentar, vestir, calçar, educar, etc; que o seu corpo não é coberto por uma túnica diáfana, precisa comprar roupas; que o seu saber é adquirido e atualizado através de meios materiais e tem que comprar livros, jornais e pagar cursos e seminários para o adquirir.
“QUANDO VOCÊS FIZERAM O CONCURSO, JÁ SABIAM O QUANTO IAM GANHAR!” foi a frase mais citada nestes comentários (e em qualquer momento quando o assunto é o salário do magistério) que de tanto ser repetida já virou um bordão. Sim, os docentes sabiam, mas o seu grande defeito, o qual é inerente à sua condição humana, é que esse profissional sonha, acredita na educação e ama estar em uma sala de aula. Se reclama é que deseja continuar fazendo o seu trabalho e para que isso aconteça, tem que continuar vivo, com saúde, com uma boa dose de auto-estima, com estabilidade emocional e com condições materiais para exercer o seu ofício. É importante lembrar, que se há reclamações é porque os professores e professoras ainda estão motivados, respeitam os seus alunos e acreditam na educação, o profissional desmotivado, sem esperança não protesta, resignado se cala ou pede demissão...
Especialistas já estão prevendo um apagão na área do magistério em função da baixa remuneração e das precárias condições de trabalho oferecidas aos profissionais ligados à educação. Entretanto, esse apagão pode chegar a qualquer momento, diariamente inúmeros profissionais estão abandonando o magistério obrigados por problemas de saúde e também em busca de melhores perspectivas de salários.
A representação da figura do professor/professora tecida pelo imaginário coletivo coloca o indivíduo que a exerce no plano incorpóreo. O real significado da palavra aluno – ser sem luz – reforça essa imagem, professor/professota dentro dessa perspectiva é o guardião dispensador da luz. A divinização da profissão desloca o humano que a exerce do plano das necessidades materiais. Inconscientemente é tido como um ser divino, uma espécie de anjo tutelar, uma entidade sobrenatural. Logo, a sua razão de ser é a doação da luz materializada no saber. As atribuições desses profissionais extrapolam a o âmbito do conhecimento técnico para o qual ele é preparado, para além da capacitação técnica a sua função se estende à construção da identidade moral, psicológica, política e social do aluno. A docência é vista mais como missão do que profissão, colocando aqueles que a exercem em uma área indefinida, pois o objeto de sua ação é ao mesmo tempo material e imaterial, secular e espiritual.
Diferentemente do profissional da medicina - profissão também estigmatizada como missão – o médico tem uma missão direcionada para um objeto específico: o bem estar do corpo físico. Já a “missão” do docente não tem uma fronteira definida. A dimensão humana do docente é totalmente ignorada. Essa indefinição da missão do docente é extremamente prejudicial para o indivíduo que a exerce, pois ao mesmo não é permitido possuir/admitir as necessidades humanas consideradas normais para as outras categorias profissionais. Não é levado em conta que esse profissional necessite uma remuneração digna, de cuidados com a saúde e de tempo para a família e o lazer.
Concebido como uma fonte inesgotável deve sempre doar e nunca receber, deve ter paciência inesgotável para com todos, não deve adoecer e deve viver única e exclusivamente para a profissão, além de ter a capacidade milagrosa de remover todos os obstáculos que se interpõem entre o aluno e o saber, principalmente os de ordem estrutural. Professor/professora dentro desta perspectiva torna-se uma espécie de monge secular obrigado a cumprir votos sagrados de pobreza, celibato e renuncia. Essa imagem está tão arraigada, que é comum se ver profissionais da área constrangidos diante de suas necessidades humanas. Reivindicar melhores salários, condições dignas de trabalho, respeito e consideração soam como heresia, espera-se deste segmento uma postura de eterna filantropia e espírito de caridade.
A população esquece que o docente:
• não tem asas para ir para o trabalho voando e que depende de transporte como qualquer mortal (será, que é por isso que até agora não tem direito ao vale transporte?);
• como qualquer pessoa precisa de alimentos tipo: arroz, feijão, carne, etc. (o ticket alimentação faz falta);
• não tem a capacidade para enxergar no escuro e tem que pagar a conta de energia elétrica,
• não é dotado de telepatia para se comunicar e por isso tem que pagar telefone;
• não é um ser solitário e tem família para cuidar, alimentar, vestir, calçar, educar, etc; que o seu corpo não é coberto por uma túnica diáfana, precisa comprar roupas; que o seu saber é adquirido e atualizado através de meios materiais e tem que comprar livros, jornais e pagar cursos e seminários para o adquirir.
“QUANDO VOCÊS FIZERAM O CONCURSO, JÁ SABIAM O QUANTO IAM GANHAR!” foi a frase mais citada nestes comentários (e em qualquer momento quando o assunto é o salário do magistério) que de tanto ser repetida já virou um bordão. Sim, os docentes sabiam, mas o seu grande defeito, o qual é inerente à sua condição humana, é que esse profissional sonha, acredita na educação e ama estar em uma sala de aula. Se reclama é que deseja continuar fazendo o seu trabalho e para que isso aconteça, tem que continuar vivo, com saúde, com uma boa dose de auto-estima, com estabilidade emocional e com condições materiais para exercer o seu ofício. É importante lembrar, que se há reclamações é porque os professores e professoras ainda estão motivados, respeitam os seus alunos e acreditam na educação, o profissional desmotivado, sem esperança não protesta, resignado se cala ou pede demissão...
Especialistas já estão prevendo um apagão na área do magistério em função da baixa remuneração e das precárias condições de trabalho oferecidas aos profissionais ligados à educação. Entretanto, esse apagão pode chegar a qualquer momento, diariamente inúmeros profissionais estão abandonando o magistério obrigados por problemas de saúde e também em busca de melhores perspectivas de salários.
Que futuro poderemos esperar para a educação se os que estão fora não querem entrar e os que estão dentro estão sendo obrigados a sair?
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